Espanha, país onde a partilha de dados digitais ainda consegue fugir à ilegalidade (desde que não haja lucro envolvido), continua sobre gigantesca pressão de países como os EUA para que mude drasticamente essa posição - e passe a perseguir toda e qualquer pessoa que ouse descarregar uns bytes digitais da internet.
Conhecida como Lei Sinde (nome da ministra da cultura), eis que nos Prémios Goya se pode assistir a um episódio histórico. Álex de la Iglesia, presidente da Academia do Cinema espanhola, disse o que tinha a dizer sobre o assunto na sua noite de despedida, sob o olhar atendo da Ministra Ángeles González-Sinde que estava na audiência.
Aléx começou por ser um apoiante desta lei... até começar a ter discutir o assunto com fãs no Twitter, e mudar radicalmente de posição dizendo que esta lei, efectivamente, "não serve para ninguém"!
O discurso completo, pode ser visto no vídeo em baixo, e lido em castelhano no Público.es. Mas como o meu caro amigo Nelson Cruz indicou no seu post sobre este assunto, aqui ficam alguns pontos chave:
Dizem que provoquei uma crise. Crise, em grego, significa “mudança”. E a mudança é acção. Estamos num ponto de não retorno e é o momento de agir. Não há marcha atrás. [...] As regras do jogo mudaram.Pode ser apenas mais um pequeno grão de areia no processo de evolução de uma sociedade onde corporações insistem em nos tentar convencer que um "bit" de informação deve ser tratado da mesma exacta forma que um bem físico... Mas, acredito que eventualmente mais pessoas - como Álex de la Iglesia - possam compreender que a "mudança", muitas vezes é para melhor (especialmente quando é abraçada em vez de rejeitada!)
[...]
A Internet não é o futuro, como alguns acreditam. A Internet é o presente. A Internet é uma forma de comunicação, de compartilhar informação, entretenimento e cultura, utilizada por centenas de milhões de pessoas. [...] Os internautas não gostam que lhes chamem assim. Eles são cidadãos, são simplesmente pessoas, são o nosso público.
Esse público que perdemos, não vai ao cinema porque está em frente a um ecrã de computador. Quero dizer claramente que não temos medo da internet, por que a internet é, precisamente, a salvação do nosso cinema.
Só ganharemos o futuro se formos nós próprios a mudá-lo, nós que inovamos, adiantamos propostas imaginativas, criativas, trazendo um novo modelo de mercado que tenha em conta todos os implicados: autores, produtores, distribuidores, exibidores, páginas web, servidores, e utilizadores. É necessária uma crise, uma mudança, para poder avançar para uma nova maneira de entender o negócio do cinema.
Temos de pensar nos nossos direitos, claro, mas não esquecer nunca as nossas obrigações. Temos uma responsabilidade moral para com o público. Não podemos esquecer algo essencial: fazemos cinema porque os cidadãos nos permitem fazê-lo, e devemos-lhes respeito, e agradecimento.
[...]
Não há nada melhor que sentir-se livre criando, e partilhar essa alegria com os demais. Somos cineastas, contamos histórias, criamos mundos para que o espectador viva neles. Somos mais de 30.000 pessoas que têm a imensa sorte de viver fabricando sonhos. Temos de estar à altura do privilégio que a sociedade nos oferece.
Eu acredito, com toda a humildade, que se queremos que nos respeitem, há que respeitar primeiro.
Não era tempo de aprender com todos os discursos de desgraça que são repetidos incessantemente, sempre pelas mesmas pessoas, desde os dias da rádio, TV, cassetes, VHS, etc. etc?
[Via PC Manias]
Nelson sem acento sff. :)
ResponderEliminarOlha que eu zango-me! Já tive de recusar um Bilhete de Identidade pq me meteram acento.
Já agora também te podia processar por usares sem autorização a tradução do discurso... que nem é meu. :)
falando muito a sério que ninguém nos ouve, será que estes senhores estão dispostos a pôr o seu trabalho à venda na net para milhões de internautas por 30 ou 40 cêntimos? Esta é a verdadeira discussão não são os DVD a 20€ e os bilhetes de cinema a 6€, e não quero falar dos falsos filmes 3D para sacar mais uns cobres ao pessoal
ResponderEliminarPara mim acho que o ideal era serviços de mensalidade, tipo Netflix (mas sem tretas de os filmes só estarem disponíveis durante uns meses, etc). Imaginem o que era pagar 10€ ou isso (o Netflix são 8 dólares) e poder ver via streaming qualquer filme, quando e onde quiséssemos.
ResponderEliminar@Nelson
ResponderEliminarCorrigido e editado.
E sim, o netflix é o futuro, mas... é certo e sabido que anda "meio-mundo" a tentar lixá-los e a querer fazer o mesmo.
@Joao
Pois, era altura de analisarem o motivo que fez com que a App Store fosse um sucesso.
Acham que se a grande maioria das Apps custasse 10 ou 20€, que aquilo teria o sucesso que teve?
Nélson com é deve ser em Espanhol... :)
ResponderEliminarNelson "aportuguesado" também leva acento. Mas o nome é de origem inglesa, onde não há acentos. E foi assim que os meus paizinhos mo deram, e é assim que eu gosto. Dispenso o apêndice. :)
ResponderEliminarConheço uma rapariga que nasceu na Austrália, e a quem também meteram acento no BI em Claúdia. Quando lhe contei o meu caso ficou toda contente de saber q podia reclamar. Fica aqui a referência para outros casos do género.
Desculpem este OFFTOPIC.
Voltando ao assunto, o Netflix está sobre ataque de todos os lados. A Blockbuster e outros estão a tentar imitá-los, mas como são serviços a pagar por cada filme (sem mensalidade) como o aluguer tradicional e sem a mesma atenção ao cliente do Netflix, parece que não estão a ter grande sucesso.
ResponderEliminarMas isso é concorrência, que é sempre boa e bem-vinda. O problema são os estúdios de Hollywood que estão a tentar espremer ao máximo a Netflix. Ainda há dias li um artigo sobre se estariam a matar a galinha dos ovos de ouro. É o que as editoras de música têm feito com os serviços online inovadores que têm aparecido. Ainda antes de terem quaisquer utilizadores, quanto mais lucros, têm logo de adiantar uns milhões.
Outro problema são os ISPs que não vêm com bons olhos a Netflix "despejar" imenso tráfego nas suas redes sem lhes pagar por isso. É a história do "net neutrality". Os ISPs americanos (e não só) querem ver se conseguem cobrar duas vezes a mesma largura de banda: aos seus clientes e aos serviços online mais endinheirados.