terça-feira, 28 de agosto de 2012

As Colecções Digitais para a Posteridade


É tempo de o reconhecer... estamos tramados!

Não é novidade nenhuma para quem já por cá andar desde o tempo dos VHS, e das cassetes, e que também saberá o quanto os estúdios nos impingem com grande dedicação e alegria os repetidos conteúdos de que tanto gostamos: quem tiver comprado um filme em VHS terá certamente sido tentado a re-comprá-lo em DVD para ter direito a melhor qualidade de imagem (e também aos extras e making-of), e agora novamente em versão Bluray em alta-definição.

E se pensam que ficamos por aqui, a chegada ao mercado, ainda este ano, de televisores com resolução 4K fazem desde já antever que novas versões remasterizadas em ultra-alta-definição estão aí ao virar da esquina.

Daí que, para muitas pessoas, a alternativa dos conteúdos digitais via streaming possa ser mais atractiva (não que por cá tenhamos muita escolha... já que muitos destes serviços continuam indisponíveis no nosso país.) Para além de se poupar espaço (quem tiver mais de 4 ou 5 centenas de filmes em DVD saberá o que quero dizer isso com isso) deixamos de nos preocupar com a sua manutenção, riscos, discos perdidos, emprestados, etc. etc.

No entanto, em muitos casos, os filmes alugados para acesso via streaming - para além de terem preços que muitas vezes não são nada apelativos - muitas vezes deixam de fora os extras que teríamos caso alugassemos a versão física. Algo que uns até dizem ser um incentivo de Hollywood à pirataria. E aos quais se adicionam os exagerados prazos que vão atrasando a sua disponibilidade...


Mas mesmo em caso de compra, estamos também perante novos problemas que se irão fazer sentir à medida que a geração digital for envelhecendo... É que se com os meus pais sempre tive o acesso a todos os LPs que eles foram acumulando ao longo da sua vida, e que pude ouvir sempre e quando queria, e que por cá permanecerão mesmo quando eles, e eu, já por cá não estiveremos... Com os conteúdos digitais a coisa torna-se mais complicada.

É que nos filmes comprados digitalmente estamos em muitos casos a comprar apenas o direito de o vermos, e não o filme em si. Ou seja, não podemos sequer transferir esse direito para outra pessoa, o que faz com que toda a colecção de filmes digitais que comprem ao longo da vossa vida... muito provavelmente não possa ser legalmente deixada aos vossos familiares e/ou amigos.

Uma situação que actualmente se poderá contornar facilmente recorrendo à "pirataria legitimada" (o tipo de pirataria que me faz não ter qualquer complexo de fazer download de um filme do qual comprei um DVD, apenas para poupar o trabalho de o "ripar" e comprimir eu mesmo)... mas que no futuro, com a recorrente caça às bruxas a todo e qualquer site de partilha de conteúdos, se poderá complicar cada vez mais.


Em conclusão:... valerá a pena repensar duas vezes quando nos acenarem com as vantagens do "digital", e saber até que ponto não estaremos a vender literalmente o futuro que gostaríamos de deixar aos que por cá ficarem. Certamente que a "indústria" gostaria deste novo afluxo de rendimentos, de que - como se não bastasse cobrarem pelos mesmos conteúdos a cada mudança de suporte físico - começassem agora a ter uma nova renda por cada nova geração que queira comprar os conteúdos que os seus pais já tinham comprado anteriormente.

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