Prometheus

Trinta e três anos depois de nos ter trazido Alien, Ridley Scott volta a sentar-se na cadeira de realizador e a reencontrar os nossos adorados aliens, em Prometheus.

Neste novo século, em vez de nomes Sigourney Weaver, Harry Dean Stanton, John Hurt e Ian Holm, temos agora outros mais "frescos": Noomi Rapace, Michael Fassbender, Charlize Theron, Guy Pearce, etc.

Desta vez assistimos aos eventos anteriores ao do primeiro filme, com uma diversificada equipa de exploração que parte rumo a um destino traçado com base em registos nas antigas civilizações desaparecidas e da pré-história.

Não se espere um filme ao estilo de qualquer um do anteriores - com tudo o de bom (e alguma coisa de má) que isso representa. Este é um filme que cria a sua própria identidade e ambiente. Para trás fica o terror claustrofóbico do Alien original; a acção alucinada de Aliens; a estranheza de Alien 3; e a biologia de Alien Ressurection. E no entanto... todos estes elementos continuam a estar presentes.

E... agora é tempo de pararem de ler e irem ver o filme, pois vamos entrar em modo SPOILERÍFICO!



Desenganem-se aqueles que esperavam um filme que encaixasse "direitinho" no primeiro Alien. Aqui, continuamos a ficar com mais perguntas que respostas... o que nem é mau, e já vai dando origem a 1001 teorias e interpretações possíveis. Neste filme os "space jockeys"/"engenheiros" passam a ter papel bem destacado; sendo revelado que partilham o seu ADN com o nosso: ou seja, serão possivelmente os nossos criadores. E é esse elemento da criação, e também do desejo da imortalidade, que serve como outro dos pontos centrais do filme. Um velho Peter Weyland, poderoso mas que pouco ou nada quer pode fazer para evitar a morte, e que faz esta última e derradeira viagem, em busca dos nossos criadores - e, espera ele, da vida eterna.

Chegados ao destino, a equipa descobre uma base com naves debaixo do solo, de uma raça que terá viajado por toda a galáxia (e chegado ao nosso planeta), e onde aparentemente terá acontecido algum desastre, com as tripulações a serem massacradas (supostamente pela sua própria arma biológica, que terá ficado fora de controlo e dado origem aos alien?) e onde resta um sobrevivente em estado de animação suspensa.

Enquanto isso, a entrada dos exploradores na nave faz com que a tal arma biológica comece a actuar sobre pequenas larvas, que vão dando origem a uma primeira geração de aliens; ao mesmo tempo que o nosso Android de serviço vai prosseguindo com os planos do seu criador, e infecta propositadamente um dos membros da tripulação, que engravida a sua companheira e que - mesmo sendo incapaz de ter filhos - vai ter direito a uma gravidez relâmpago de um alien nada simpático.

No final, a missão tem que tomar uma opção suicida para impedir que uma nave Alien parta do planeta em direcção à Terra, chocando contra ela com a sua própria nave, e deixando apenas uma única sobrevivente no planeta e que se pensaria destinada a uma morte certa... até que o nosso Android revela ser capaz de pilotar uma nave, e ambos partem rumo ao planeta de origem dos Engenheiros, em busca de respostas.

Tenho que confessar que inicialmente fiquei um pouco desapontado por o final não "bater certo" com o que bem conhecemos - pensava que no final do filme o "último engenheiro" iria acabar por ligar com o que vemos no filme original. Mas, isso depois torna-se irrelevante, pois afinal tratam-se de planetas/luas diferentes (LV-223 em Prometheus, LV-426 em Alien).

As questões que ficam são muitas: afinal... qual a relação entre a arma biológica e os aliens? Serão os aliens produto de uma mutação originada por esta arma; ou serão coisas não relacionadas?

No incício vemos um engenheiro num planeta a tomar o estranho composto biológico, que o mata e espalha o seu DNA dando origem a vida nesse planeta (Ridley Scott diz que poderá não ser a Terra; mas é irrelevante, uma vez que os engenheiros terão passado por centenas/milhares de planetas)... Qual o propósito disso? Seria um teste? Uma cobaia? Alguém "condenado" a ficar abandonado num planeta e que terá trazido consigo às escondidas aquele composto biológico?

... Talvez esta última hipótese ajudasse a explicar o facto de -depois de 2000 mil anos em hibernação- a primeira preocupação do "engenheiro" que acordou fosse regressar à Terra para exterminar a nossa raça, e não em tentar perceber o que se tinha passado ou contactar a sua própria raça.

Há também inúmeras considerações a tomar sobre se a "gravidez" humana poderá ter tido qualquer impacto significativo na evolução dos Alien... mas penso que não será o caso: já sabemos que os nossos adorados Alien se adaptam e transformam em função do organismo hospedeiro; e naquela lua vemos representações de uma "Alien Queen" - o que significará que os "engenheiros" já terão tido contacto com ela (a não ser que tenha sido outra espécie nativa do planeta...?)

... Seja como for, está bem conseguido o filme, que assim abre as portas para um Prometheus 2 em vez de encerrar o ciclo.

Pontos extra: muito bem apanhada a transformação dos Space Jockeys em espécie quase-humana (as suas formas estranhas sendo explicadas como sendo um "exoesqueleto"); também não passa despercebido o "piscar de olhos" ao fato espacial mais "blindado" que surge a certa altura - que até poderia dar a ideia de vir a homenagear o célebre combate com o "power loader" de Aliends - mas que não passou de um "hint" sem consequências. Menos explicável... porque motivo há sempre um "anormal" na tripulação com problemas de atitude com outros; e como pode uma missão daquelas ter um capitão da nave que melhor estaria aos comandos de uma navio pirata a enfrascar rum?

Seja como for, nada disso estraga este filme que, embora não tenha sido aquilo que estava à espera (do tal "encaixe" perfeito com o primeiro Alien), pode ser considerado um verdadeiro filme "Alien" que vai dar que falar. :)