Quem me conhece sabe que eu não sou de me meter em "politiquices" nem "mexeriquices", mas depois de ler este post no CinemaNotebook e este há alguns dias atrás, não pude deixar de dar comigo a matutar sobre o assunto.
E o que digo é que.. é normal! Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. É normal "sentir-se" medo de perder o controlo de algo a que se estava habituado. Isto não é um problema exclusivo dos críticos ou do cinema - veja-se o caso da indústria discográfica, que ataca a Internet como se fosse o seu maior inimigo, quando ao mesmo tempo vê cada vez mais dinheiro entrar nos seus cofres vindos das vendas de música digital - é pena que a memória seja curta e que se esqueçam que a rádio, hoje grande amiga da "música", teve idêntico tratamento xenófobo radical quando surgiu, dizendo-se então que iria arruinar a venda de discos (imagine-se!)
Mas, voltando ao tema...
O emblema de "crítico" sempre foi usado com orgulho por alguns poucos iluminados que tinham a sorte de ter estado no sítio certo na hora certa. Para mim, e para muita gente da minha geração, o crítico era "aquela" pessoa que dizia mal dos filmes que todos gostavam e falava bem dos filmes que toda a gente achava uma seca.
Lamento dizê-lo, mas é essa a melhor descrição do crítico tradicional que eu conheci ao longo das décadas em que fui vendo cinema.
Não quero com isto dizer que sejam boas ou más pessoas, bons ou maus críticos... não me interpretem mal. O que quero dizer é que, na sua maioria, me pareciam críticos que - por muitas boas intenções/razões que tivessem, pareciam estar numa realidade à parte do resto da população.
Por vezes, até parecia que faziam questão de "assassinar" um filme na sua crítica, como se isso tivesse algum impacto quando o filme continuava a ser o mais visto da semana, do mês, do ano.
Eu não sou crítico de cinema, nunca fui, nunca serei - sou apenas um apaixonado pelo cinema, que gosta de ser transportado para outro mundo durante as horas em que fico sentado numa sala a olhar para a tela.
Ao longo dos anos, é certo que aprendi a dar mais valor ao cinema, a prestar mais atenção a pormenores... apenas assim se explica que tenha visto e revisto filmes apenas para ouvir os comentários de realizadores, produtos, actores, etc. De procurar, que nem maluco, os documentários "making of" dos filmes - e, com o surgimento da Internet, poder seguir mais de perto as rodagens, as histórias da produção, etc.
Se é bom ou mal existirem milhões de opiniões pela internet fora?... Apernas pergunto: qual é o mal?
As pessoas não são "carneirinhos burros" (espero eu!) que comem tudo o que lhes for metido à frente. Têm cabeça, sabem ver, sabem pensar... depressa esse público gravitará em torno de sites e blogs que achem pertinentes, em detrimento de outros que achem menos bons. É um sistema que se auto-regula e que - na minha modesta opinião - é bem mais justo do que manter uma selecção de "eleitos" que opina semanalmente num jornal apenas "porque sim."
De resto, a nível de "politiquices", não posso negar que sabe bem ver um Peter "Braindead" Jackson ir buscar uns óscares, e atirar umas "farpas" a todos aqueles que desdenhavam as suas obras anteriores. De menino a quem ninguém queria estar associado, rapidamente passou a ser um menino de ouro - com muitos "críticos" a desdizerem-se, como se a memória fosse curta...
E pronto... fico-me por aqui.
sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
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com o comentário do Peter Jackson fizeste-me lembrar do elitismo que existe na Academia dos Óscares, por exemplo, em relação a compositores não oficiais, como o Danny Elfman, que é responsável por centenas de bandas sonoras lindíssimas que preenchem muitos dos grandes filmes de Hollywood e no entanto, mesmo em anos em que não há grandes bandas sonoras que lhe façam concorrência, ele não ganha, porque não faz parte do "clube" de compositores! Mas suponho que também isso agora já tenha mudado um pouco (de 2000 para agora já ganhou 2 Óscares, mas dezenas de prémios em todos os outros lados) :D
ResponderEliminarÉ uma questão complicada, muito complicada. O problema é que tem sido quase sempre discutida pelas pessoas erradas, como tu ou eu, e não pelos próprios "críticos" de cinema. O tempo dará razão a quem a tiver, certamente.
ResponderEliminarUm abraço!
Discussão perfeitamente ridicula que é tão antiga quanto a história da critica cinematográfica. Em primeiro lugar, se tudo é assim tão relativo, e a democratização da opinião ´(na internet e fora dela) é muito positiva, não vejo qual a razão de atacar a posição da "critica". é um contra-senso. Mais ainda,o que é afinal a "crítica"? Na minha experiência com diversas publicações (Público, JN, Expresso, Cahiers...)é raríssimo encontrar um consenso que seja.
ResponderEliminarEste ataque parte de um pressuposto completamente errado, que é o de comparar a opinião do moviegoer com o texto critico. É que nada pode ser tão diferente! A filosofia do 10º ano de escolaridade esclarece a questão: eu, você, enfim, podemos sair de um filme e tecer um juízo de valor, que não é mais do que uma opinião. Já o que o critico (idealmente) faz é um juizo estético, aprecia a obra sobre diferentes ângulos, à luz de conhecimentos técnicos, históricos, artisticos que, de facto e infelizmente, só uma determinada elite possui.
Ambos são subjectivos, pessoais, e sobretudo abertos a discussão. Mas naturalmente em planos diferentes. Não me parece satisfatório resumir a divergência com um simples "porque sim" ou "os criticos isto e aquilo...".
E porque é que possuem o este "know how"? Uma analogia possível é a de um piloto e as suas horas de voo. O verdadeiro critico passa horas mergulhado em filmes, em revisões sucessivas se necessário, não esquecendo nunca a história do meio.
É por isso óbvio que o "grande público" (o que quer que isso seja) não se reveja no que o "critico" escreve. Mas creia-me, têm (temos) muito mais a aprender com eles do que o inverso.
A minha cinefilia (no sentido radical da palvra) nasceu por intermédio da leitura de Luis Miguel Oliveira, Vasco Cãmara, Francisco Ferreira, Burdeau, Rosenbaum... bem como de bloggers que possuem a mesma infinita curiosidade e capacidade de análise (José Oliveira, Hugo Alves, Tiago Ribeiro...).
Naturalmente que isto não passa por um seguidismo acéfalo de tudo o que eles e outros dizem. A crítica enquanto "métier" implica provocação, confronto intelectual. E nunca me convencerão que há algo errado com isso.
Cumprimentos,
Miguel B.
Olá Miguel,
ResponderEliminarEm primeiro lugar, obrigado pelo comentário.
Não sei se costumas andar por aqui, mas em caso afirmativo saberás bem que eu sou uma pessoa que promove o diálogo e aceita (mais que isso: incentivo e procuro) outras opiniões.
O essencial é que haja respeito - caso contrário, nem faz sentido haver "discussão".
Eu não ataco o "crítico" enquanto crítico... ataco sim algumas das posturas e atitudes que algumas dessas individualidades parecem querem tomar, como sendo os únicos possuidores da "verdade" e - pior que desvalorizar outras opiniões - nem sequer as aceitarem discutir ou defender em debate "público".
Claro, não são todos - mau seria - mas é essa a imagem que muitos deles fazem passar cá para fora (intencionalmente ou não.)
E nesta era em que todas as pessoas estão praticamente à mesma distância umas das outras, acho que essa espécie, do "crítico" fechado em si próprio, tenderá a desaparecer... valorizando ainda mais os outros críticos, independentemente das suas origens, que estejam dispostos a dialogar e explicar as suas críticas... o tal confronto intelectual que mencionaste.
Gostei de ler isto.. concordo em tudo.
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