E finalmente chegou às nossas salas Blindness - a adaptação cinematográfica de Ensaio Sobre a Cegueira do "nosso" José Saramago.
Com Julianne Moore no papel principal, este filme realizado por Fernando Meirelles (Cidade de Deus) leva-nos até ao mundo caótico da cegueira e escuridão (ou melhor dizendo, de toda uma sociedade que fecha os olhos àquilo que não quer ver.)
Não sendo fã do estilo literário de Saramago, este filme foi uma agradável surpresa - especialmente considerando que a reacção à primeira versão do filme (apresentado em Cannes) tinha sido bastante negativa.
Mas a re-edição e re-montagem do filme parece ter resultado, e o filme é agora bastante "visível" e compreensível - mesmo se os sentimentos e pensamentos que causa e incita sejam suficientes para nos deixarem a pensar durante muito tempo após o filme ter terminado... (e isso será um dos maiores elogios que se poderá fazer a uma obra deste tipo.)
Não quero estar para aqui a fazer uma análise à obra de Saramago (a qual -repito- não li por não conseguir atinar com o estilo de escrita dele) mas este filme foca detalhes bem importantes da sociedade em que vivemos, onde todos vivem "cegos" àquilo que os rodeia e se preocupam unicamente consigo próprios.
Um filme a não perder.
E para terminar uma citação gamada ao Zé Carlos Teixeira que de certa forma está relacionada com tudo isto:
Primeiro levaram os negros. Mas não me importei com isso. Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários. Mas não me importei com isso. Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis. Mas não me importei com isso. Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados. Mas como tenho meu emprego. Também não me importei
Agora estão me levando. Mas já é tarde. Como eu não me importei com ninguém. Ninguém se importa comigo.
Bertold Brecht (1898-1956)
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