terça-feira, 4 de março de 2008

Fantasporto Black Day

Se há dia que vai ficar na história do Fantas como o dia em que tudo correu mal, vai ser o dia 3 de Março de 2008 - o dia de ontem.

Qualquer dúvida sobre os filmes escolhidos para este dia foi prontamente assassinada por um sem fim de problemas técnicos que assombraram o festival.

Diga-se que, apenas um filme foi exibido sem problemas (se não considerarmos o facto de ter mais de uma hora de atraso, fazendo com que a última sessão terminasse bem para lá das 02h da manhã - o que num dia de semana, convenhamos, não é nada agradável.)

Quando nos sentamos para ver a nossa "primeira" sessão, das 19h:

Mirror (Chermin) – Zarina Abdullah – Mal – 100min-OE -v. o. leg. port.
“Mirror” é um thriller de terror sobre uma mulher que é assombrada por um espírito vingativo aprisionado num espelho antigo.
Rapidamente reparamos que algo de estranho se passava - e não era por ser um filme da malásia. Era apenas o simples facto de o áudio estar cerca de 6 segundos atrasado em relação à imagem. Ora, muita coisa acontece em 6 segundos... é o suficiente para se ver um acidente de automóvel (tal como o que acontece no início do filme,) mas o barulho só surgir quando os personagens estão já no hospital. Definitivamente, uma nova forma de ver cinema!

Obviamente, grande parte dos espectadores começou a sair da sala - e qual a minha surpresa quando me dizem que o mesmo já tinha acontecido na sessão anterior.

Saimos da sala, e a organização disse-nos ter conhecimento do problema e que estava a tentar resolvê-lo.

No entanto, não sei o que será pior: se a falta de informação da organização, que deixou os espectadores sem explicações, se o mero facto de exibirem um filme daquela forma.

Ao primeiro sinal de que havia aquele problema deveriam ter interrompido a exibição do filme e subido ao palco para darem explicações aos espectadores, não?
Bem sei que foi um problema técnico - mas, sabendo-se que estes podem acontecer, a única coisa que se pode exigir à organização é que aprenda a lidar com eles da melhor forma, informando os espectadores em vez de continuarem a exibição de um filme como se "nada se passasse".



Fomos jantar, esperando que o problema estivesse resolvido a tempo da sessão seguinte:
Opium: Diary of a Madwoman
de Janos Szasz – Hun – 109 min - SR - v. o. leg. port.
Um médico toxicodependente e com bloqueio criativo procura inspiração, numa paciente, uma bela mulher que está obcecada por escrever diários.
Ora, não fosse o filme uma valente seca (desculpem-me todos os que gostarem do filme) a certa altura os personagens aparecem a beijar-se de cabeça para baixo, um pouco à Spider-Man!
Humm... alto lá, o filme começa a ficar interessante...

No entanto, passados longos segundos, continuam de cabeça para baixo... hummm...
Começo a fazer contas de cabeça: filme invertido? Não pode ser! Mas... se está invertido então...
Ah pois, aí está a prova do crime, o filme está mesmo - pasmem-se! - de pernas para o ar, e a andar de trás para a frente, como depressa se pôde ver pelo som "ao contrário" e gotas a "des-cairem" para cima/baixo - dependendo de onde considerarm o cima/baixo.


[É isto o que o Opium faz ao projeccionista do Fantas]

Realmente, isto hoje não correu nada bem.
Mais uma vez, o filme continuou em exibição durante loooongos momentos até que fosse interrompido. E esperou-se ainda muito mais até que alguém subisse ao palco para explicar a situação. Disseram-nos que iria demorar 15 minutos até que a exibição fosse retomada.
Ai, imagino a confusão que se estaria a passar na cabine de projecção...
Apenas mais uma dica/sugestão, quando derem estas explicações, seria melhor que dissessem o que esperam dos espectadores: se querem que eles permaneçam na sala, ou que saiam, ou etc.
(E que também explicassem em inglês, porque vários dos espectadores estrangeiros ficaram ali a olhar despassarados, sem perceber o que se passava.)

No entanto é pena que tudo isto afecte negativamente a imagem do Fantasporto.
Mas, é assim que se aprende... e caso volte a acontecer (esperemos que não!) espero que tenham a lição melhor estudada.

Quando foi altura de retomar a exibição. não me parece que tenha havido qualquer aviso - o filme começou a dar e pronto. Quem estava lá fora que se "lixe". Custava muito carregar no botão para dar o toque de início de sessão?

O filme recomeçou para logo de seguida ser interrompido novamente - novamente sem explicação. Passado uns tempos recomeçou... e foi novamente interrompido.

E finalmente alguém veio ao palco pedir desculpas pelo sucedido - e lá recomeçou o filme. embora "mais à frente", sem que se voltassem a ver as cenas "invertidas" em condições - (será que passaram a bobine inteira à frente?)
Não é que me importasse - por mim podiam ter passado directamente para os créditos finais... porque como disse, o filme é desesperante.

E pronto - um novo dia chegou (já passava da meia-noite!) quando o filme das 23h começou, com a curta:
Juanito Under the Orange Tree – Juan Carlos Villmizar – Col – 9 min - CF - v. o. leg. ingl.
Uma tradição colombiana diz que quem come pevides das laranjas arrisca a coisas estranhas. Quando se é miúdo, acredita-se em tudo. E quando a família precisa de ajuda, ainda mais.
Bastante engraçado e bem conseguido, e curto - o que depois de todos os acontecimentos, agradecia-se.


E, at last, o filme da noite:
I’m a Cyborg, But That’s Ok – Chan-wook Park Chan-wook Park – Cor Sul – 105 min - CF/OE - v. o. leg. port.
Uma rapariga que pensa a ser um cyborg entra para um hospital de doentes mentais, onde encontra outros pacientes com psicoses diferentes. Eventualmente, apaixona-se por um homem que pensa que pode roubar as almas das pessoas. Do realizador de "Old Boy".
Sala cheia, mesmo a esta horas impróprias, com o público lá fora tendo levado uma seca descomunal.

Desenganem-se os que esperavam ver um novo "Oldboy". Não é que o filme seja mau, mas...
Ver filmes passados num manicómio, com muita letra e pouca substância, e com uns raros momentos de "explosão" não foi suficiente para inverter a situação.

O filme até têm uma base sólida e engraçada, mas - talvez fosse culpa das horas tardias - arrasta-se penosamente até à sua conclusão.


Só digo uma coisa: dificilmente haverá outro dia tão "mau" na história do Fantas!

Esperemos que tenha sido o primeiro e último, e que o resto desta edição do Fantasporto 2008 decorra sem incidentes.

1 comentário:

  1. agree completely... ontem foi mesmo um desespero... frustrante!!

    quando se passam estas coisas num festival que temos no coração a coisa começa a doer... já tinham acontecido algumas coisas giras com a projecção em outros anos (filmes desfocados, num formato incorrecto ou as cortinas assassinas que se fecham a meio de um filme), mas nada tão mau como o que aconteceu ontem... e tudo com muito poucas explicações da organização ou pedidos de desculpa...

    será que devolveram o dinheiro do bilhete a quem veio às sessões da tarde e do fim da tarde? duvido...

    até devem ter achado que no fantas é assim.. tudo fantástico.. e o que se podia esperar de um festival que se queixa constantemente de falta de apoios... já sabemos que a falta de apoios é um grande mal do fantas, mas pôrra, com 28 anos em cima eu acho inadmissível estas coisas acontecerem... não tanto o problema com a máquina de projecção em si.. mas a maneira como lidam com o problema (ou como não lidam).

    oh well... que seja a última e que seja para esquecer.

    Venham os próximos! :)

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